quarta-feira, 16 de maio de 2012

sobre a tal relevância de tudo ao seu redor

tudo que se toque, gente ou coisa, tem uma certa relevância, até um certo tempo. começa colorida, enebriante, vício, necessidade e compulsão. como cheiro de cabelo, de livro novo ou de posto de gasolina quando você é criança. o transcurso de dias, meses e anos tem a capacidade de desbotar memórias, trazem enjoo do cheiro do cabelo, acabam com o cheiro do livro novo e fazem você crescer e achar cara a gasolina.

a digestão e percepção do tempo não custam muita coisa, algum sofrimento, talvez, e isso vai depender sempre da sua necessidade de manutenção e estabilidade. o comodismo é um eterno aliado para manutenção do que tem de acabar, do que deve ter ponto final e encerrar capítulo. é este tal comodismo que protela e faz prosperar, falsamente, o que já perdeu sua relevância. o ser humano, numa insensata necessidade de cultuar, devotar, ser cultuado e ser devotado, é capaz de engolir e deglutir mais do mesmo, mais uma vez, pelo cagaço da mudança eminente.

algumas coisas são certas amigo: o cheiro do cabelo tem de ser tão intenso que se torne imperceptível para não enojar, o livro deve ter páginas amareladas ou folhas novas com conteúdo passageiro e o posto de gasolina... bom, é melhor não ter carro.

bom também, meu amigo, é mandar um foda-se generalizado, fazer uma faxina, interromper esse tal de tempo, desregular a evolução e sua cadência, atrapalhar essa medida de relevância e renovar, recomeçar, resetar. separar roupas do armário que você não usa há mais de um ano, terminar um casinho (quase) amoroso, emprestar o livro para um amigo que (com certeza) não o irá te devolver com dobras e marcas indesejadas e vender o carro (se você ainda insiste em tê-lo). essas chacoalhadas no seu universo, ao redor do seu umbigo, vão te fazer sentir uma renovação repentina, uma deliciosa sensação de liberdade, que fatalmente será interrompida por qualquer rotina que se anuncie, um vencimento do aluguel, por exemplo, e você começará a sentir o Mr. Tempo de volta, a correr em sua direção e PAH! aquela trombada da realidade, que se aliou ao tempo só pra te sacanear.

é, dentre as coisas que são certas, a mais certa de todas é a conclusão de que o mundo não gira ao redor do seu umbigo e que, à exceção de (no máximo) meia dúzia de pessoas, ninguém quer saber de suas aflições, dores, dúvidas e piadinhas infames. o mundo está ocupado demais para cuidar de você.


há braços!