terça-feira, 25 de setembro de 2012

o cheiro de terra molhada.

poros abertos, pelos eriçados e o último arrepio percorre a coluna, invade a nuca e a toma por fim. um sorriso languido destoa, mostra os dentes alvos demais, covinhas nos cantos da boca e uma inclinação do pecoço que o alongava ainda mais e me dava espaço para vasculhar todos os cantos do lugar onde queria fazer minha morada. tinha nela uma espécie de alento, acalanto quase pueril que era tomado por um imenso desejo de fazer daquele sorriso e daquelas bochechas coradas algo permanente. não podia mais imaginar que em algum momento lágrimas escorreriam de seu rosto e eu não estaria lá para fazer uma graça que seria seguida de sua risada mais gostosa. nisso de gargalhar e sentir arrepios com os poros mais abertos que de costume, eu sentia seu cheiro ainda mais intensamente, quase conseguia materializa-lo, tocá-lo e o ter eternizado em minhas narinas. fazer dela o único cheiro que meu olfato seria capaz de sentir e sair pelas ruas enebriado e entorpecido. - não quero mais deixar de lado o tempo que posso passar te cheirando... - não sei o que tanto você me cheira. sabe que isso me deixa arrepiada. - cheiro para não te esquecer, para te fazer cócegas e para te ter em mim. - mas você já tem, estou aqui. - mas eu quero você em mim, por todo lugar e a qualquer tempo. e ficamos deitados nos lençóis de algodão que tinha no sítio e que já eram uma espécie de continuação dela naquele lugar. antes de cair no sono, porém, ela decidiu que queria um filho meu em seu ventre e que amanhã de manhã queria andar descalça enquanto a grama ainda estivesse úmida do orvalho da noite que testemunhávamos. segundo ela dizia, esse orvalho era a marca da noite anterior no dia que se anunciava, lágrimas de despedida que escorreriam inevitavelmente à terra preta, uma espécie de nostalgia da natureza nela mesma e seus pés a vasculhar e vilependiar este sublime momento de despedida da grama, do mato e da noite, tendo a terra, seus calcanhares e a mim como testemunhas. dormimos.