sábado, 19 de dezembro de 2009

prelúdio de natal

ela só havia percebido a decoração de natal em todos os cantos do bairro quando a moça do balcão da padaria lhe desejou boas festas ao entregar o maço de cigarro continental. ainda não tinha captado as coisas que estavam parando a sua volta. havia mais de 15 anos que ela não comemorava um natal, não entrava na cozinha para preparar as dezenas de pratos imaginando os elogios que lhe renderiam durante a ceia. parecem ter sido 15 anos, não consegue mais contar o tempo corretamente, e sópercebe o domingo pelo movimento de velhos, mais velhos que ela, na padaria bebendo vermute e lendo o jornal mais grosso da semana, esse era o domingo. o cigarro e a moça no balcão eram os mesmos de todos os dias, faria, então, qualquer diferença entre uma terça-feira a tarde e um domingo de manhã, além dos velhos e do jornalmais grosso? nenhuma! que diferença teria se contasse o tempo corretamente? tenta, as vezes, medir os anos pelo enrrugar do rosto, em frente ao espelho descobre as novas dobras embaixo dos olhos, o amarelar dos dentes.. por outros tempos fica sem se olhar no espelho e passa diversas noites sem sequer acender a luz do quarto, e assim só vê as sombras dos porta-retratos em cima da cômoda e mesmo assim sabe, com detalhes, quais são as fotos ali, onde elas foram tiradas, o que aconteceu naqueles dias, o que foi dito antes delas serem registradas pela canon do filho mais novo. tenta evitar olhar as imagens, como se isso amenizasse a dor que a imagem traz. entra no apartamento, pela janela entra um golpe de luz que clareia a foto de todos juntos no cristo redentor... com uma lágrima empoçada no canto dos olhos ajoelha no quarto com a foto nas mão e a imagem daquele cristo e começa a rezar, é natal.

domingo, 6 de dezembro de 2009

prelúdio

ela estava deitada na cama de seu quarto, com os cabelos ainda molhados do banho, nua em pêlo. o seio tocava a cama como se buscasse um carinho, o corpo lânguido se espalhava por cima dos lençóis emaranhados e era lambido pelo vai-e-vem do ventilador. o livro tocava levemente o outro seio. a história ultrapassava o livro e tocava a pele dela. o autor do livro tinha a moça nua, entregue, destemida. a pele ouriçada, com pelos arrepiados, ela se entregava à personagem do livro. amava a moça do livro como gostaria de amar a si mesma e como queria que os homens de sua vida a amassem. os orgasmos passageiros nunca tinham sido intensos como o prazer que aquele momento lhe dava. ela parecia sentir o relógio parar, o mundo esperava que ela sorvesse o prazer pleno daquele momento. o ventilador parecia parar de girar e fixava as lambidas no colo alvo e nos bicos rosados dos seios. pensava na torpeza dos seus amores, nos toques e nas coisas que sentia sem querer.

ela queria mesmo ser aquela mulher que era naquele momento. queria poder amá-la, mostrar a todo mundo quem era, como era e o que pensava. sentia ser ali, trancada em seu quarto, uma mulher mais linda, sensual, poderia ter qualquer homem a seus pés sem o menor esforço. já sentia o prazer de ser desejada. ia ter os melhores amantes, sem pensar no amor, só ia gozar. depois, cansada de tanta volúpia poderia dedicar-se a alguém, mas seria uma devoção como a um santo. teria somente uma chance de amar e de mostrar que seria a melhor amante... o poder de conquistar e de devotar-se para ser amada e devotada por alguém.

os delírios transpiram, molham a pele. gotículas em torno dos lábios grossos, a língua com sede sente o sal que sai do corpo e aumenta sua sede. o delírio vem em forma de suor e de sorrisos. o quarto vai ecurecendo e o cabelo vai emprestando a umidade ao travesseiro. olha para o relógio na parede e vê que ficou a tarde inteira deitada, amando e sendo amada por ela mesma. num estalo levanta da cama, veste a calcinha que estava no criado mudo, desliza o corpo pra dentro dum vestido rosa que faz ela se sentir meio francesa quando o vento sopra e ameaça mostrar alguma vergonha sem seu consentimento. ia descer a escada correndo, cantoralando uma canção do chico e caminhar pela rua. ia tentar sem a mesma mulher deitada nua na cama, queria poder mostrar ao mundo o retrato de seu corpo deitado de lado, com as vergonhas salientes e ouriçadas, na cama, queria que pudessem adimirar seus seios, que sentissem o cheiro de seus cabelos ainda molhados... queria sentir o amor possuindo a pele, corpo e mente. e gozar também.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

prelúdio II

ela ainda procurava seus óculos pela cabeceira de mogno ao lado da cômoda. tateando por entre o abajur e o rádio-relógio puxou os olhos de vidro pelas pernas, do mesmo jeito que faz há mais de 25 anos. desde que seu falecido marido a levara para conhecer aquela que seria a casa da família, ela já sabia que passaria o resto da vida tateando por entre aquelas paredes.

no começo ela não queria mudar da casinha de dois andares no bexiga. ela gostava do cheiro de massa e de tomate que tomava a rua todas as manhãs, era como se fosse um prenúncio dos operários que invadiriam as ruas do bairro, rumo aos seus lares para o almoço com sua mulher e filhos. em duas, ou três horas no máximo, o sino da fábrica soaria e eles surgiriam como miragem ao fim da rua.

ela não queria mudar porque sabia que não conseguiria sair dali por inteira, seus olhos ficariam ali para sempre e é por isso que hoje tateia a cômoda da cabeceira.

mas como não tinha muita opção, teve que mudar-se para a casa na lapa. era a casa própria, comprada com o adiantamento dado pelo chefe do marido e algum dinheiro emprestado pelo banco. nunca entendeu bem como funcionavam as finanças mais complexas da casa, o máximo que sempre conseguiu fazer, e que fazia bem, era apresentar quinzenalmente o total das despesas no armazém. ela era capaz de dar conta de cada quilo de carne comprada, como fora preparada e o quanto cada um comera naquela ou noutra refeição. fato é que o dinheiro já não fazia mais tanta falta e à medida que o dinheiro se multiplicava, menos seu marido queria saber das suas contas no armazém e menos ainda estava disposto para ouvir suas histórias acerca desse ou daquele tipo de carne e de quanto tempo gastou na cozinha até que ficassem daquele jeito que foram à mesa.

foi andando com o ombro vez ou outra tocando na parede, como se buscasse um ponto de referência para guiar os passos ainda cegos. ainda insistia em acordar cedo e, como que por instinto, pegava na maçaneta do quarto dos filhos para acordá-los. só quando abria a porta e via as paredes descascadas e o entulho que tomara conta do cômodo ao longo dos anos é que se dava conta de que não havia mais ninguém em casa. mesmo assim conseguia ouvir os filhos resmungando que ainda era muito cedo e se contorcendo na cama tentando prender o sono na palma das mãos.

ainda sente o cheiro deles de manhã quando saíam do banho. eram as crianças mais lindas do bairro, quiçá do mundo inteiro, dizia ela enquanto beijava o rosto dos meninos. quando eles tomavam o café, cada um a seu jeito, ela embrulhava maçãs, sanduíches e espremia laranjas para o lanche deles. por cima do ombro pedia que não brigassem e olhava para o corredor para ver se o marido surgiria dando o nó em sua gravata. mas há muito tempo que ele começou a trabalhar mais cedo e quando saía de casa todos ainda dormiam.

ela senta na cadeira de balanço, pega o jornal do dia para ver as fotos. ela consegue entender o que aconetec no mundo sem sair de casa somente lendo as fotografias do jornal. as untas do corpo lateam e espalham uma dor contínua que ela não se recorda do dia em que elas surgiram. sabe apenas que foi na mesma época em que o marido começou a ter reuniões noturnas e sua presença na casa tornou-se ainda mais vaga. os meninos não tinham coragem de perguntar mais pelo pai e sempre receber como resposta o olhar dela cheio de amargura. sentia que estava envelhecendo e que ele deveria estar nos braços de alguma secretária bilíngue se preparando apara acordar.

essas coisas aconteceram há tanto tempo que as referências do passado começam a se confundir em sua cabeça e já não sabe se os filhos partiram primeiro ou se foi o marido. a solidão é tamanha que parece querer apagar o passado para dominar sozinha a mente e o corpo. o arrastar dos chinelos pelos tacos do piso da casa são os únicos sons que ela tem ouvido habitualmente, o ressoar pela madeira faz com que a casa inteira saiba pra onde ela está indo. ao chegar na cozinha abre a porta da geladeira e tira o pote plástico com a única refeição que vai fazer no dia, come aos poucos e até a janta ainda tem uma porção. a comida quem faz é a faxineira falante que aparece uma vez poir semana e consegue fazer um relato dos fatos mais importantes de sua vida enquanto puxa o sofá velho e varre por detrás dele. ela mal presta atenção nas histórias da mulher e aproveita para ver se consegue se lembrar da sua.

ela tranca a porta do quarto dos filhos para que a faxineira não mexa em nada. só ela arruma o quarto quando sente saudade dos filhos que já morreram. encosta o ombro na parede e vai até o quarto pra se deitar e procurar o sono que há muito tempo perdeu.

amanhã é dia da faxineira falante aparecer, e ali deitada na cama ela já começa a amontoar os acontecimentos na mente para começar a organizá-los assim que o sofá começar a ser arrastado. enquanto isso, do outro lado do mundo, uma moça descobre seu corpo nu e o desejo que está preso nele. sente inveja do corpo, do desejo e da moça que sequer conhece a feição.

sábado, 7 de novembro de 2009

elucubrações XI

ainda pensava naquela manhã quando atravessava a rua, o guarda vestido numa roupa amassada soltava silvos no apito que continham algum tipo de mensagem, pelo menos foi o que pareceu quando o motorista acenou com a cabeça complacente. na padaria da esquina não preciso mais pedir, o rapaz do balcão me avista de longe e já prepara o café. ando tão previsível que nas segundas e sextas ele sabe que prefiro um suco. e aí a rotina se repete: bebo o café, reclamo de não mais poder fumar meu cigarro no balcão, o rapaz comenta alguma coisa sobre um novo craque do time do santos, concordo com seus comentários, assino a caderneta no caixa.
entro no escritório com um cumprimento rápido a todos, outro café já me espera à mesa e os carimbos começam a soar. marcam o passar do tempo dentro da pequena sala que ocupo no oitavo andar do prédio. não lembro da última vez em que passei uma segunda-feira sem ouvir o bater de um carimbo, essas pancadas pareciam também apagar as memórias, parece que quando olho para trás não consigo me lembrar de nenhum outro momento que não tenha sido precedido ou seguido por um soar ensurdecedor de um carimbo.
a verdade é que me tornei um burocrata e não consigo mais pedir nada que não seja através de um requerimento, memso oralmente, até para pão da padaria é complicado me fazer entender! e não consigo atender a nada que não tenha sido pedido em duas vias, aviso do prazo de sete dias úteis, explicoa utilidade dos carimbos no verso e marco hora para a retirada do documento. fio furioso ao perceber que o interlocutor já nãoprestava mais atenção na explicação entre o segundo e o terceiro carimbo. as pessoas não valorizam mais um carimbo e já me pediram até para aceitar um protocolo digitalmente! senti-me ultrajado e ultrapassado! percebi que provavelmente sou a última pessoa que irá utilizar estes carimbos em cima da mesa, imagino que no dia seguinte à minha aposentadoria, ou à minha morte, o que vier primeiro, os carimbos serão recolhidos e jogados ao lixo. talvez alguém queira guardar algum para mostrar ao neto o objeto obsoleto, como uma espécie de relíquia. parece que vou virar uma referência temporal: a época dos homens que usava carimbos.
agora faço o caminho de volta pra casa, o cachorro é o único que vem me receber, faz festa e me acompanha até o quarto. o jornal já começou, ligo o som e começa a tocar o disco do roberto... melhor ir dormir porque amanhã ainda é quinta feira e vou trabalhar sem gravata e vou pedir um suco de alguma fruta da moda na padaria! quero radicalizar!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

elucubrações X

havia acabado de amanhecer, o sol ainda arriscava seus primeiros raios no céu cinza da cidade. ela resolveu acordar antes, mais cedo que o de costume, e se vestiu rapidamente. fiquei deitado observando seu jeito de calçar as sandálias de salto alto que deixavam suas pernas ainda mais marcadas e torneadas. ela provavelmente pensava que eu ainda estivesse dormindo, escovou os cabelos negros, levemente ondulados, tantas vezes que os fios começaram a tomar outra forma como se entendessem uma mensagem passada por ela através da escova. quando achou que estavam mais volumosos amarrou um rabo de cavalo no topo da cabeça e deixou a nuca desnuda. o cheiro do banho começava a dominar o quarto e misturava-se ao perfume que ela tinha acabado de passar. gostava do resultado final dessas fragrâncias juntas que resultavam num cheiro único: o cheiro dela. catou na bolsa algum documento fútil e tirou também um par de brincos de lá de dentro, ouvi ela reclamar baixinho que havia perdido uma das argolas que usou na noite anterior. tinha uma olheira embaixo dos olhos verdes que davam um ar mais velho em seu rosto, tratou de logo cobri-las e também coloriu o rosto como se fosse uma aquarela e um tom de rosa corou suas bochechas, um batom vermelho cobriu os lábios e lá estava ela! pronta para sair do apartamento. havia dito antes de cair no sono para ela pegar a chave em cima da geladeira e levar com ela, assim ela trancaria a porta e passaria ter acesso livre ao meu apartamento no centro da cidade. ela pegou as chaves... e em sua hesitação quase saltei da cama num só impulso para dizer que ela deveria levar sim a chave e que aquele gesto não significava nada demais! nenhum compromisso, apenas uma facilidade. contive meu impulso, apertei o travesseiro angustiado, mas ela devolveu a chave em cima da geladeira e bateu a porta levemente, com medo de me acordar e ter que entrar novamente para se despedir de mim e aí sim perguntaria das chaves e ela não teria como deixá-las ali em cima. agora tinha a desculpa da bebida e que pela manhã esqueceu minhas instruções e que por isso a chave havia ficado, mas que passaria algum dia, no fim de tarde, para buscá-las e que beberíamos uma cerveja nesse dia.
resolvi sair da cama, aproveitei para entrar no banheiro e fechar a porta, o cheiro do banho dela ainda deve durar algumas horas. as narinas estavam entorpecidas quando abri a porta e fui à cozinha preparar um café amargo. o cigarro ficou incensando do cinzeiro numa tentativa de tomar o ambiente e varrer de uma vez por todas o cheiro floral que o perfume da moça tinha. tenho certeza que àquela altura a casa já havia se livrado do aroma de anis, mas em mim ele parecia estar agarrado à pele e nos pelos da narina.
comecei o dia entorpecido pelo cheiro de flor da mulher e saí de casa agradecendo à força que manteve na cama no momento em que ela resolveu deixar a chave em cima da geladeira. porque eu não conseguiria aguentar mais um dia aquele cheiro preso a mim.
preciso correr! mais uma vez estou atrasado!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

elucubrações IX


"Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (…) Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.”

Antoine de Saint-Exupéry, em Cidadela

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

elucubrações VIII



pequenas placas que sinalizam um caminho
onde ir, como ir e qual a razão de ir
figuras e personagens perdidas flutuam

e o cachorro lá em cima, o real,
é retratado pelo cão a flutuar na imensidão branca da placa

sabe ele, assim como sei eu, que, para a placa,
ele nada mais é que obediência
um fiel retrato do que é determinado na ordem desenhada

na minha vida desenho eu! me dá esse giz de cera!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

paulinho da viola!!



14 anos - paulinho da viola

Tinha eu 14 anos de idade
Quando meu pai me chamou
Perguntou se eu não queria
Estudar filosofia
Medicina ou engenharia
Tinha eu que ser doutor

Mas a minha aspiração
Era ter um violão
Para me tornar sambista
Ele então me aconselhou
Sambista não tem valor
Nesta terra de doutor
E seu doutor
O meu pai tinha razão

Vejo um samba ser vendido
E o sambista esquecido,
O seu verdadeiro autor
Eu estou necessitado
Mas meu samba encabulado
Eu não vendo não senhor

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

devaneios urbanos

pedrinhas caídos nas calçadas pelo caminho ainda dormem. com a face colada às pedras frias. os pés e mãos calejadas vez e outra são pisadas pelos que passam correndo rumo ao trabalho, ou em busca dele. crianças sem idade também estão caídas, amontoadas feitos mercadorias vencidas e deixadas de lado pelo dono da mercearia. juntos tentam um usurpar o calor do corpo do outro. a tentativa é vã, esperam que o calor nasça daquela união, ou que o sol resolva parecer e ali possam fazer um "forno-humano". cobertores e pães mordidos esquecidos no lixo são paliativos, parecem somente protelar o sofrimento, a dor e a agonia da existência. ah, quase esqueci de dizer que os pedrinhas são humanos, que assim como as pedrinhas da calçada, também são pisados e esquecidos.

elucubrações VII

tenta explicar algo que só você vê,
aquilo que ninguém mais sente,
tudo que está preso dentro do peito

diz a todos o quanto você sonha,
como gosta de gargalhar,
atreva-se a medir a sua felicidade.

queria ver você explicando tudo que te faz feliz,
onde que você encontrou tantas coisas boas
como juntou tudo, misturou e conseguiu
continuar sorrindo pra tudo na vida

conta isso aos amargurados e receosos,
aos secos, vazios e ocos de alegria.
incrédulos e perplexos
dirão que você enlouqueceu...

digo-lhes, então: ele é viciado em felicidade!
e vai em frente, minha cara amiga.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

elucubrações VI

havia uma família de bolivianos no caminho da manhã sem graça. pareciam atônitos, possivelmente perplexos pela dimensão que as coisas tem na terra da garôa.
um deles, que parecia ser o líder do grupo, veio perguntar a mim por uma rua que nunca tinha ouvido falar. não conseguia entender bem o bolivianês que ele falava, tentei falar espanhol, mas descobri que não sei falar espanhol e muito menos bolivianês.

seria eu na bolívia o mesmo que um boliviano é aqui? um brasileiro que só só fala brasilês ou um brasileiro que não entende bolivianês?

o boliviano virou de costas e disse à família que eu tinha dado boas orientações e eu subi a escadaria para continuar a viagem.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

elucubrações V

até onde podemos julgar alguém? em ponto somos melhores que outros? e, sendo melhores, poderíamos nos sobrepor?

a vida acaba por mostrar as verdadeiras facetas dos seres humanos e nada melhor que o convívio para isso. e aos nos depararmos com os erros de alguém acabamos nos esquecendo dos nossos próprios, empunhamos pedras e partimos ao esculacho. denegrir, xingar, ofender e destacar o que seriam os defeitos. seria esse um meio de querer destaque, luz, holofote e atenção? a crítica e a ofensa são limitadas por uma linha tênue, podemos romper a fronteira entre uma e outra sem notar.

ao transpassar essa fronteira podemos perder o que havíamos coquistado: credibilidade. a ofensa gratuita não acrescenta e não leva a evolução alguma. os melhores (e mais evoluídos também) seres humanos que conheci sempre destacaram seus adversários, combatiam com ideias e soluções que os inimigos não conseguiam enxergar, ou seja, iluminavam tudo com uma luz tão forte que o erro e defeito sumiam, eram encobertos pela luminosidade da superação. apenas se valiam da escuridão destes para salientar, fortificar e justificar o seu pensar.

seria, então, melhor perder o controle sobre a fronteira e invadir o território da ofensa gratuita? para alguns é o melhor mesmo, o jeito que encontram de se destacar e de sobrepor. muita vezes não se consegue perceber, mas a humilhação não tarda a vir a tona.

as lições aprendidas pela humanidade sempre mostraram que os humilhadores, não demora muito, serão também humilhados, ou frustrados, por suas próprias ações e palavras. ficam sozinhos num território hostil e minado. todos que estão a sua volta e que, por qualquer razão que seja, imposta por uma relação social, por exemplo, acabam concordando com este ou aquele pensamento. no entanto, na iminência da derrota e das explosões que atigirão o humilhador, rapidamente levantam voo os seguidores e se deslocam para bem longe das minas para poderem se deliciar com a degradação daquele que fora o líder opressor. ver um líder deste tipo ser humilhado tem um sabor diferente para quem teve de concordar com os absurdos! até mesmo as maiores patentes do nazismo, que intimamente eram judeus de alguma forma, se deliciaram com a derrota do Reich, a morte do Fuhrer e a humilhação alemã. a vingança é um prato que se come bem frio... e na minha terra dizem que ela demora porque vem no lombo de um jegue, mas ela chega!

aqueles que conseguem perdoar, destacar o erro do inimigo com sutileza, trazer soluções para eles aparecem muito mais. aprender com o erro do outro é muito melhor! dói muito menos! pra que ser invasor e vilependiador?!

até onde você quer ir com essas ofensas? conseguirá segurar tantas pedras na mão para agredir a todos que eraam a sua volta? acho que viverá sempre cego, a carregar pedras, sem aprender e eu aqui, do lado de cá da fronteira, do lado da crítica. do lado de quem prefere ser criticado e ver as críticas... quero sempre poder compreender o erro alheio, poder entender as soluções que são dadas, aplicá-las aos meus próprios problemas e evoluir.

e quando você estiver cansado pode vir pra cá, trago uma cadeira proo seu descanso, um copo d'água pro seu refresco e as mãos carregadasde perdão e compaixão para descansar as suas tão calejadas das pedras que andou carregando por toda a vida.

cuidado, minha filha, não tente levar tudo que te disse tão a sério, falo a toa, talvez desleixado pelo passar dos anos e pela insanidade. ou ainda pela idade que começa a desgastar as paredes de minha memória. tudo anda meio desbotado, confuso, perdido e agredido pelas pedras que jogaram em minha casa - o meu corpo -, mas a alma ainda sobrevive... e você bem que podia começar aprendendo com a minha insanidade, que tal?

espalme as mãos e aspedras cairão naturalmente. isso já um bom começo para se ter um novo fim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

elucubrações IV

há algumas semanas que ando evitando atender os chamados desesperados à minha porta. a sirene parece querer ficar rouca, como se tivesse se cansado de suplicar por minha atenção, seus gritos vão se tornando cada vez mais corriqueiros e já ouvi rumores do corredor que um vizinho logo vai tratar de chamar a polícia para adentrar o meu apartamento. ouvi outros dizerem ainda que estou morto e que meu gato provavelmente vai começar a almoçar o meu rosto, mais tardar, na próxima quarta.
até pensei em matar o coitado do gato por causa desse comentário, pensando que ele também pudesse ter ouvido a sugestão e, num ímpeto curioso, esperasse em tocaia eu pegar no sono profundo para poder saborear minha carne envelhecida. não o matei, pode ser que eu queira jantá-lo qualquer dia desses quando os meus suprimentos estiverem escassos e quiser economizar a última reserva de comida para a minha derradeira ceia.
afinal de contas, quando tudo estiver por um fio, eu e o gato, seremos animais soltos e, ao mesmo tempo, isolados dentro da selva que será o apartamento do quarto andar no leblon.

esquece tudo isso, bichano... a polícia está chegando, já posso ouvir a sirene da viatura e as botinas dos homens fardados surrando o chão da escada e logo mais a porta irá ao chão e estarás salvo.

- quem é?
- é a polícia! está tudo bem, senhor?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

elucubrações III

o vento que sopra na manhã fria corta o rosto
e as mãos encolhidas em bolsos e algibeiras
procuram um calor perdido
os passos rápidos e incessantes
para que destino?
aonde chegar nunca foi um problema, mas um propósito
a busca por um caminho, mesmo que gelado

e toda a gente fria se entrecruza
os toques de braço e corpo com outros
só intensificam a sensação.
gelad'alma

assisto ao movimento,
tentando acompanhar alguém que julgo estar perdido
tento dizer-lhe "é por lá! não vai por aí..."
o grito pode nem ter saído de minha boca,
e pouco importa, seria fútil
a cidade consegue gritar mais alto
e todos estão surdos!

preciso fechar a janela, esquecer esses detalhes
o cigarro ainda queima no cinzeiro...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

elucubrações II

ainda me pego pensando nas mesmas coisas
como se a mente fosse um dos meus discos velhos
arranhados e confusos
sempre tocando as mesmas canções

os encartes envelhecidos, desbotados
o tempo corroendo papel, cor e som
fico assistindo o show de tudo
com o sentido de ter os meus dias vividos daquela forma

o corroer dos discos, o desbotar das cores
e a minha vida e meu corpo também
as 78 rotações do disco cansam de ser assistidas
o som some, o rodar hipnotizante toma seu lugar

se ao menos as canções fossem tão eternas quanto pensam ser,
se nós fossemos tão eternos quanto pensamos
e se fossemos tão importantes o quanto gostaríamos
acabaríamos sendo repetitivos como os discos da estante

a vida e o disco seguem a rodar,
até o momento em que desaparecem, somem.
dêem-me novos discos
e só.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

elucubrações I

bateu a porta como se fosse voltar,
naquele passo leve que costumava ter
o rastro de perfume ainda ficara no ar
o cheiro flutuava, substituía o oxigênio
e virava vida
entorpecia

vício de cheiro e de dor
acostumei com o sofrimento e o acalanto
eram formas diferentes de sentir amor
na realidade, não sei nem o que sentia
de tanto que havia dentro e ao redor

ainda tento recuperar os sentidos, o passo e o cheiro
andando em círculos, perdido
rumo e sigo além, adiante
sempre distante

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

a "Verdade Tropical" de caetano sobre gil


"Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. Pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: Caetano, venha ver o preto que você gosta. Isso de dizer o preto, sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem, um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo.
Era como isso se somasse àquilo que eu via e ouvia, uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma bênção, adensasse sua beleza.
Eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. Era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta".

dá até para imaginar a casinha em santo amaro das brotas, interior da bahia, com as portas e janelas abertas, e como se pudesse ouvir Dona Canô chamando por caetano e mostrando "o prêto" no vídeo...

semana de chuva.


daniel

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

tanto faz...

tanto faz o que se sentiu
o que foi visto
não faz mal ressentir
repensar...

pensar em tudo
no que poderia ter sido
e não foi
rejuvenescer...

pensar no tempo de menino
na cantiga de roda
e pular de amarelinha
entristecer...

agora tanto faz,
o tempo passou
marcou o corpo e o rosto
os órgãosvão tomando um tom de cinza
até mesmo o céu ficou sem cor

e fim. tudo tem seu tempo
e agora tanto faz.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Devaneios sobre castelos, sarneys, senadores e sobre o meu bolsa-família!

Parece inacreditável o que vem acontecendo no Senado Federal. Todos sabem das falcatruas da família Sarney, mas parece que todos ali também estão encrencados até o pescoço e, com medo de que as coisas possam se espalhar, pedem uma pizza gigante e fica por isso mesmo. A única divergência deve ser só o sabor da pizza e quantidade de convites que cada um quer para ir à pizzaria e poder levar toda a sua família e trupe a tiracolo. Nada que um ato secreto, anulado e dias depois "desanulado", não possa resolver.

As palavras mudam de conceito e até o que parece imutável, como o conceito de "irrevogável", muda da noite para o dia. Afinal de contas, mais vale a camaradagem de longas datas do "companheiro Luís Inácio" do que a integridade e a ombridade de um Senador Da República (das Bananas, Mulatas e Samba) Federativa. E os companheiros que elegeram os companheiros que estão lá? Ficam sozinhos e nem se incomodam ao verem seus companheiros - os de lá e que só vem pra cá de quatro em quatro anos - mudarem de time e de opinião. Parece que nas eleições nós fazemos parte de um grupo gigante, lindamente unido por um ideal maior, conceitos e ideologias nas quais insistimos em acreditar e que, após as eleições, estamos sozinhos. Jogamos nós, pobres mortais, contra super-heróis da república-tupiniquim e, é claro, nós perdemos de goleada! "Mas é sempre um grande prazer fazer parte deste grupo, o mais importante é mesmo competir. Agora temos que erguer a cabeça e pensar na próxima eleição, digo, partida", afirmou ainda ofegante um dos artilheiros do nosso time após a derrota na eleição passada.

E quando tudo parece finalmente caminhar para a obscuridão e para o esquecimento, aparecem 7 senadores que resolvem impetrar (hoje, 28/08/2009) mandado de segurança no STF contra a decisão do Conselho de Ética que arquivou todos os processos contra o José Sarney (digno de honrosas homenagens - ainda vivo -, hospitais, escolas, rodovias, creches e até mesmo uma cidade do interior maranhense já receberam o seu nome), que é cidadão maranhense mas é senador eleito pelo estado do Amapá. Será que é isso mesmo? Será que foi arquivado? Quem é mesmo o presidente da câmara dos deputados? E do senado? Mas ainda bem que eu não votei em nenhum deles, ou será que votei? acho que tô confundindo tudo, o que quis dizer mesmo é que o Maranhão é lindo e que quero passar minhas férias de verão pelas bandas de lá, ou será que fui nas férias passadas?

Acho que eu queria, nas minhas próximas férias, conhecer aquele castelo de pedras do Edmar Moreira (ex-corregedor da câmara), passar uns dias lá com a patroa e com os meninos. Aquilo é que é vida, aquilo é que é um homem honesto! Aquilo é um castelo! "Um castelo?! Que coisa mais cafona", disse alguma entendida em castelos na TV outro dia. Também achei, concordei imediatamento com a moça do vídeo, e passei a achá-lo bem cafona desde então.

A culpa pode ser minha, pode dar ela pra mim. Aprendi com o meu partido que eu não preciso ter vergonha de nada! Tudo vai ser esquecido e toda imagem comprometedora gravada nas dependências do Palácio será apagada, deletada e devidamente esquecida caso eu precise de alguma dose de esquecimento do backup do governo. (Palavra bonita essa: 'backup'. E olha que eu nem sei o que ela significa).

Só pra deixar bem claro, faço minhas as palavras daquele senador que dizia estar pouco se lixando pra opinião pública (lembram dele? Vou audjudá-los, tá? É o Sérgio Moraes, senador do Rio Grande do Sul pelo PTB)... Afinal de contas, eu quero mesmo é saber quando que o meu time vai jogar, qual é o reajuste do Bolsa-família nesse ano e como que eu faço pra votar no Lula da Silva de novo!

Saudações brasileiras, meu povo brasileiro!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

a arte de adoecer

nunca consegui compreender direito o meu corpo. há pessoas, alguns amigos meus, que dizem sentir o limite do corpo, como se este fosse uma máquina e o dono da máquina, do corpo, fosse assim uma espécie de gerente. consegue gerir a máquina, bricar entre os limite e o descanso total. nunca consegui sequer acreditar nessa capacidade, sempre achei meus amigos, e as pessoas também, antes de tudo mentirosas. o meu corpo sempre foi bem independente de mim, formamos por alguns anos uma boa parceria, mas de uns tempos pra cá a máquina não cvonsegue acompanhar a mente... é como se houvesse uma defasagem entre a evolução dos dois. minha filha diz que é culpa do cigarro, e que se não fossem os 35 anos de fumaça correndo pelos pulmões eu teria uma velhice bem mais agradável. ela diz que eu poderia viver mais e melhor. certo que até poderia viver mais, mas tenho minhas dúvidas se viveria melhor. melhor em que? poderia fazer caminhadas lentas assim que o sol nascesse. quem sabe sentiria menos dor física, duvido que a ausencia do cigarro curasse as chagas que trago na alma e dentro do peito. fato é que sei que morrerei em breve, acho que é a primeira vez na vida que tenho pressa, vontade que o tempo passe logo e que chegue a minha hora. não sei o que vai acontecer com minha essência, se vou para o céu ou para o inferno, mas a minha carne, o meu corpo, eu quero que sea enterrado no cemitério são joão batista, a cova pode ser funda, quero que a umidade me poupe deste calor que enfrentei todo o tempo em que estive vivo, com exceção dos tempos que passei na europa. não precisa haver anjos por cima do meu túmulo e as flores podem ser de plástico. no meu epitáfio escrevam: "viveu, amou e foi feliz", o réquiem pode ser uma balada da rita lee, abram uma cerveja e brindem gritando meu nome. não se esqueçam de me leogiar bastante, o quão grande homem eu fui e todas esses adjetivos que se usam quando alguém morre... e depois me deixem em paz! vou fumar um último cigarro antes de dormir e da tosse chegar.


daniel

quarta-feira, 29 de julho de 2009

lembranças do bagaço de cana do engenho

já viu o tempo hoje? acho que vai chover até o final da tarde. essas chuvas de fim de tarde me deixam com sono e sem vontade de fazer nada, parece que me remetem a um tempo de preguiça que eu vivi. é bem provável que o sono que eu vou sentir hoje ainda é um pouco daquele sono que sentia quando era criança e que não podia brincar por causa da chuva. minha mãe dizia que se eu dormisse a chuva passava mais rápido, e que molhava menos também. sim, porque se a chuva molhasse muito eu também não podia brincar porque ia sujar a roupa que ela tinha acabado de lavar. precisava achar o sono, pra chuvar passar e molhar menos, incutia a preguiça em mim, criava o sono em cativeiro, preso no meu quarto, ouvindo o som da chuva lá fora a cavar pequenos buracos na terra seca do quintal. a chuva me dava preguiça e vontade de trabalhar em meu pai, quando eu acordava ele já estava com o saco de sementes na sala, escolhendo as meis belas e gordinhas pra cavucar as escolhidas naquela terra sem vida numa esperança que de lá brotassem, meio que por mágica, uma planta no chão pra ele poder chamar de lavoura. sempre dizia que mulher e semente eu tinha que aprender a escolher. tentava prestar atenção aos seus ensinamentos, mas sempre me perdia entre uma frase e outra imaginando as bricadeiras que poderia ter brincado se não tivesse chovido. não sabia se odiava a chuva pelas brincadeiras perdidas ou se amava aquelas gotículas de são pedro pela alegria que traziam ao rosto enrrugado de meu pai. a verdade é que sempre quis me lembrar dos seus ensinamentos, sobre sementes e mulheres, mas queria também ter em mim a sensação de ter bricado. acho até que brinquei algumas vezes na chuva enquanto minha mãe rezava a novena na casa de alguma comadre, mas a sensação do perdido, as memórias que não sabemos se tivemos, parece sempre ser mais saudosistae melhor de serem sentidas. meu pai sempre foi homem do campo, lavrador, entendedor de sementes, mulheres e de pingas também. minha mãe sempre reclamava das sementes e da pinga, ela dizia que as vezes preferia que não chovesse só pra não ver o velho com as sementes na mão e a pinga ao seu alcance do lábio queimado de sol. ouvia de meu quarto ele gritar : "vai pegar mais uma garrafa pra mim". e eu ia e me sentava no saco aberto de sementes ao lado dele. lembro que meu pai tinha um cheiro engraçado de terra e álcool, e de água também nesses dias de chuva. parecia que os cheiros se misturavam e formavam uma única essência: o perfume de meu velho pai. alguns anos depois, quando voltei ao mesmo sítio, sabia que ele estava atrás daquela montanha de babaço de cana do engenho apenas pelo cheiro que passava por entre o bagaço e formava uma nuvem na entrada do terreno seco. e quando gritava da porteira: "a sua bença, pai", sempre ouvia a cana responder: "deus lhe abençoe, meu filho". e o homem velho que surgia de trás da montanha verde era só o que tinha sobrado daquele homem forte que um dia foi meu pai e que me carregava pelo campo, tinha definhado, o tempo passado e só o cheiro era o mesmo, acho que tinha quele homem apenas como lembrança viva de um homem que parece ter se perdido no passado. será que também me perdi? acho que ele também só vê a sombra do menino que fui... mas o abraço dele em mim sempre o faz voltar a ser o meu pai daqueles tempos e eu volto a ser menino e me escondo no meio de seu carinho.


daniel

sexta-feira, 24 de julho de 2009

a velhice é o preço a ser pago pela juventude

por que você não toca aquela canção?
claro que lembra, a gente tinha acabado de se conhecer e você dizia que eu era o amor da sua vida. e disse também que eu ia ser o pai dos seus filhos, o augusto ia estudar medicina e a carol ia ser o que quisesse pq ia ter mais atitude, ia ser mais independente. você dizia que a carol ia ser que nem você. não sei porque agora você finge que esqueceu de tudo! sempre te disse que não gosto desses seus surtos e chiliques, não gosto mesmo! me dão nos nervos os seus ataques. pára com isso e vem me audar a achar a chave do carro, eu sei que quando eu voltar do trabalho você vai ter esquecido essa bobagem, vai vir com a sua carinha mais meiga e dizer que eu sei que você me ama. vai me jogar na cama e fazer amor comigo como se fosse a primeira vez, tremer o lábios de prazer e dizer que eu sou o seu único homem, como fez também na nossa lua-de-mel. alías, eu acho que a melhor de todas foi aquela vez na casa da sua mãe, no natal, lembra? ainda quer continuar com isso? não acredito que você quer levar isso adiante. tem pena de mim, não percebe que eu não sou mais nem a sombra daquele homem cheio de sonhos que você conheceu, não sou mais aquele homem que chorava porque não podia te dar filhos, não sou mais um jovem seco que não faz filhos. sou só um velho seco que não teve filhos e que agora só tem você. e se quiser me pedir desculpas eu vou aceitar, dizer que não é nada e te afagar no colo. para com isso e vem aqui... isso, senta, fica quietinha. pensa numa coisa boa... pensa em como seriam os nossos filhos e como ficaríamos felizes se eles nos ligassem hoje avisando que iam passar o natal com a gente e avisando que o nosso neto tinha crescido demais e que agora tinha uma namorada. queria conhecer a namorada do meu neto... já pegou no sono? já... você sempre dorme quando falo nos nossos filhos, né? sonha com eles e boa noite, querida.


daniel

quarta-feira, 22 de julho de 2009

a evolução além da omissão

o homem está condenado a agir, até mesmo a omissão é uma forma de ação.
é viver simplesmente. e às vezes ainda acreditamos que podemos nos manter inertes, assistir o filme e nada mudará. muda sim, amigão!
a mera liberalidade, o poder de escolher, e escolher não fazer, não agir e só ver, assistir gera consequencias. o filme fica na mente e sua mente, mesmo que você não queira, processa as informações que aos poucos, num trabalho de formiguinha, vai alterando o que você é na sua essência, atenua ou acentua o seu instinto animal... e quando menos você percebe você mudou sim!
a questão não é evolução é mutação. mudar constantemente, mesmo que não queira, é o carma do homem nesse mundo dos homens que querem sempre novos homens.

e você? que tipo de homem você quer ser? vai assistir?

e por aí vai, né?

daniel

segunda-feira, 20 de julho de 2009

a sua sociedade alternativa. e que seja bem diferente da minha!

o que importa é ser diferente, não ter o mesmo do mesmo sempre,
tentar ser o que se é ao mesmo tempo que tentamos viver dentro do todo,
e de tudo também.

a sociedade alternativa de dentro pra fora
e não de fora pra dentro,
absorver é muito fácil
exalar é que é difícil,
e mais prazeroso também...

é mais ou menos assim: contar a história que eu conto,
você escuta do jeito que sabe
e fala como convém.
eu escrevo poesia, forma e letra
e você lê prosa.

não é?

daniel.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

o fio da navalha

a navalha que abre os sulcos na carne já foi mais gentil
o passar dos anos deixaram o fio mais rude
o dono da navalha não tem mais a mão tão leve
faz da navalha uma faca de cozinha
muda a forma dele e do intrumento
já não lembra de como eram
definhou

a navalha tange o corpo, os encontros abrem marcas
espaçadas e demoradas
nada sentido
só a saudade do fio da navalha e do corpo

terça-feira, 14 de julho de 2009

da janela do seu quarto

"quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender aolhar, para poder vê-las assim." cecília meireles

eu queria muito aprender também a enxergar essas pequenas felicidades, e entender o que cada uma pode representar. ver o que tem de melhor, os defeitos, as curvas. queria enxergar mais para poder entender os outros e o que querem do que para me lisongear com a minha única plenitude. não que seja um altruísmo, uma fonte de bondade, é só curiosidade mesmo.

na realidade acho que gostaria de saber o que dá pra ver da janela de cada um, comparar com o que vejo da minha e aí, quem sabe, até desenvolver uma inveja ou um pequeno rancor de não ter a mesma visão. a grama do vizinho é sempre mais verde e a janela dele também sempre tem a melhor vista.

e é isso aí!

daniel

segunda-feira, 13 de julho de 2009

andei pensando no que os outros andam dizendo

já andei pensando que em certos momentos é melhor parar, ficar inerte, como se nada mais pudesse ser alterado e então se deixar dominar um certo conformismo. isso porque já disseram também que o ócio é criativo e que um pouco de conformismo (e comodismo) num fazem mal nenhum.

fato é que a vida é feita de pequenos detalhes e estímulos. uma ligação inesperada, uma visita que chega à porta, uma noite de frio, ganhar a metade daquele último pedacinho de chocolate... as pequenas vitórias constroem o dia-a-dia e vão nos conduzindo às manhãs seguintes que poderão, ou não, ser o dia das grandes vitórias.

já ouvi dizer de gente que esperou a vida inteira por estes grandes dias, e pelas grandes vitórias. morreram sentados, esperando entre um cochilo e outro. mas isso é prosa pra outra hora...

e é isso aí!

daniel

terça-feira, 7 de julho de 2009

as coisas passam


as coisas passam como vultos

e na inércia dos movimentos cotidianos

elas passam, desapercebidas e camufladas

ora parecem ilusão, ora um desatino

as coisas passam, indo e vindo, cansadas


queria sentar, pegar todas coisas

admirar as formas deofrmadas de seus vultos

as manchas de seus rostos e a dor de suas feridas


queria parar e ver o meu vulto.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

as poesias e músicas que são nossas


incrível como certas trilhas sonoras e poesias parecem ter sido feitas para nós.
cada música e estrofe de um poema na sua proporção e significação,
mas como se fossem somente nossas.
e ninguém mais pudesse entendê-las. é como se nós usurpássemos o direito do poeta de se manifestar e tomássemos pra nós a dor e o sentimento dele...

é como se ele não pudesse entender o que ele mesmo disse.
se só o meu, o seu, o nosso sentimento se equiparasse e pudesse fazer valer o sentido que a letra representa. mas este sentido também somos nós quem damos.

música, poema, arte e vida... as coisas somente tem a dimensão que nós precisamos (e queremos) que elas tenham, né?

e na foto o chico do final da década de 70, início dos anos 80

"Toda gente homenageia
Januária na janela
Até o mar faz maré cheia
Pra chegar mais perto dela"
é do chico buarque (1967)

terça-feira, 23 de junho de 2009

circular da vida


começar de novo e ter a possibilidade de escolher tudo que fosse possível. o sonho de cada um sempre envolve algum item inalcançável, intangível. e aí essa busca vira o combustível de cada dia... quando na realidade esquecemos que o grande começo está no amanhecer, no ressucitar de um sono profundo e nas coisas pequenas da vida.

sobreviver é sempre a melhor receita para se conseguir uma nova chance e um novo começo. o circular da vida continua, independentemente da minha, ou da sua vontade. sabemos sempre quando os fatos e as coisas começaram, mas, para o nosso desespero, nunca saberemos como e quando elas irão terminar.




circular da vida!

daniel passos