segunda-feira, 5 de outubro de 2009

elucubrações IV

há algumas semanas que ando evitando atender os chamados desesperados à minha porta. a sirene parece querer ficar rouca, como se tivesse se cansado de suplicar por minha atenção, seus gritos vão se tornando cada vez mais corriqueiros e já ouvi rumores do corredor que um vizinho logo vai tratar de chamar a polícia para adentrar o meu apartamento. ouvi outros dizerem ainda que estou morto e que meu gato provavelmente vai começar a almoçar o meu rosto, mais tardar, na próxima quarta.
até pensei em matar o coitado do gato por causa desse comentário, pensando que ele também pudesse ter ouvido a sugestão e, num ímpeto curioso, esperasse em tocaia eu pegar no sono profundo para poder saborear minha carne envelhecida. não o matei, pode ser que eu queira jantá-lo qualquer dia desses quando os meus suprimentos estiverem escassos e quiser economizar a última reserva de comida para a minha derradeira ceia.
afinal de contas, quando tudo estiver por um fio, eu e o gato, seremos animais soltos e, ao mesmo tempo, isolados dentro da selva que será o apartamento do quarto andar no leblon.

esquece tudo isso, bichano... a polícia está chegando, já posso ouvir a sirene da viatura e as botinas dos homens fardados surrando o chão da escada e logo mais a porta irá ao chão e estarás salvo.

- quem é?
- é a polícia! está tudo bem, senhor?

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