segunda-feira, 28 de setembro de 2009

elucubrações II

ainda me pego pensando nas mesmas coisas
como se a mente fosse um dos meus discos velhos
arranhados e confusos
sempre tocando as mesmas canções

os encartes envelhecidos, desbotados
o tempo corroendo papel, cor e som
fico assistindo o show de tudo
com o sentido de ter os meus dias vividos daquela forma

o corroer dos discos, o desbotar das cores
e a minha vida e meu corpo também
as 78 rotações do disco cansam de ser assistidas
o som some, o rodar hipnotizante toma seu lugar

se ao menos as canções fossem tão eternas quanto pensam ser,
se nós fossemos tão eternos quanto pensamos
e se fossemos tão importantes o quanto gostaríamos
acabaríamos sendo repetitivos como os discos da estante

a vida e o disco seguem a rodar,
até o momento em que desaparecem, somem.
dêem-me novos discos
e só.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

elucubrações I

bateu a porta como se fosse voltar,
naquele passo leve que costumava ter
o rastro de perfume ainda ficara no ar
o cheiro flutuava, substituía o oxigênio
e virava vida
entorpecia

vício de cheiro e de dor
acostumei com o sofrimento e o acalanto
eram formas diferentes de sentir amor
na realidade, não sei nem o que sentia
de tanto que havia dentro e ao redor

ainda tento recuperar os sentidos, o passo e o cheiro
andando em círculos, perdido
rumo e sigo além, adiante
sempre distante

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

a "Verdade Tropical" de caetano sobre gil


"Lembro com muito gosto o modo como ela se referia a ele. Pelo menos ela o fez uma vez e isso ficou marcado muito fundo, dizendo: Caetano, venha ver o preto que você gosta. Isso de dizer o preto, sorrindo ternamente como ela o fazia, o fez, tinha, teve, tem, um sabor esquisito, que intensificava o encanto da arte e da personalidade do moço no vídeo.
Era como isso se somasse àquilo que eu via e ouvia, uma outra graça, ou como se a confirmação da realidade daquela pessoa, dando-se assim na forma de uma bênção, adensasse sua beleza.
Eu sentia a alegria por Gil existir, por ele ser preto, por ele ser ele, e por minha mãe saudar tudo isso de forma tão direta e tão transcendente. Era evidentemente um grande acontecimento a aparição dessa pessoa, e minha mãe festejava comigo a descoberta".

dá até para imaginar a casinha em santo amaro das brotas, interior da bahia, com as portas e janelas abertas, e como se pudesse ouvir Dona Canô chamando por caetano e mostrando "o prêto" no vídeo...

semana de chuva.


daniel

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

tanto faz...

tanto faz o que se sentiu
o que foi visto
não faz mal ressentir
repensar...

pensar em tudo
no que poderia ter sido
e não foi
rejuvenescer...

pensar no tempo de menino
na cantiga de roda
e pular de amarelinha
entristecer...

agora tanto faz,
o tempo passou
marcou o corpo e o rosto
os órgãosvão tomando um tom de cinza
até mesmo o céu ficou sem cor

e fim. tudo tem seu tempo
e agora tanto faz.