sábado, 22 de junho de 2013

no canto do olho, a menina dança

um salve a você que comprou todas as brigas - as suas e de outros, que muitas vezes mal conheceu -, que deixou o bonde passar, o baile rodar e deixou a vela derretendo no prato perdido em preces e cercado por relicários (a quais santos mesmo?).
um caloroso abraço a você que promete, finge, foge. você, cagão pela própria natureza, que baixou a cabeça e seguiu em cadência miúda, mínima, tão pequenininho. a você que prefere sentar à borda e analisar a profundidade da água e analisar a queda antes do mergulho de cabeça, que evita o cansaço da tentativa e que se perde em miudezas e pequenezas por entre mesas de bares e que brinda o brinde alheio.

a todos os dias bem (e mal) vividos. os amores sentidos e transados, às peles que cheiramos, aos pelos que arrepiam. também cigarros fumados, copos sorvidos e dias perdidos. aos livros lidos, aos perdidos, emprestados. amigos que foram, outros que vieram e os que deixamos partir quase que numa sensação de morte-viva.

o melhor brinde é ao oxigênio inalado, que ainda inunda seu pulmão de vida, quase num afogamento a seco. melhor é respirar, sentir por todos os poros que se possa sentir, esquecer dos poros desperdiçados, do oxigênio transmutado em carbono que sai de nós, morto. respira, puxa a cadeira, roda a baiana.

quinta-feira, 21 de março de 2013

epílogo de vida do beto.

tudo transcorreu bem nos últimos anos. não sei bem quantos anos, mas tudo terminou de alguma forma bem. tudo bem que não foram somente momentos incríveis, orgasmos e sorriso, mas terminou bem. poderia ter sido melhor, é verdade, mas foi o que a vida teve coragem de me entregar, mesmo com algum receio. certamente não me considerou qualificado o bastante para tantas sensações incríveis. de certo, e por cautela, preferiu trazer um pacote padrão de vida. nasça, seja criança, veja, aprenda, cresça mais um pouco. outro punhado de existência e alguma relevância para uma meia dúzia de pessoas. "o especial acabou, minha criança.. desculpa..". tinha passado muito tempo com uma expectativa enorme de algo gigantescamente sensacional poderia acontecer a qualquer momento. tempo passou, dias, meses e ano depois de ano. nada. vida. vida, mas somente vida na mais singela definição de existência: não havia morrido em nenhum dos trágicos acidentes que tinham acontecido. experimentei no máximo a minha quase morte e a quase morte de algum grande amigo por minha única e exclusiva culpa que não terminou em grande coisa além de um dramalhão meia tigela a respeito da possibilidade existencial de cada um de nós e noites vazias de "por que`s" trazidos ao acaso numa discussão ilógica com meu lado mais racional. imagino que você lê essa história recortada, sem pé nem cabeça, e pensa que sou um cara pessimista. não sou, nunca fui, mas a vida quis me fazer assim. queria que eu fosse, mas não fui. houveram tempo sensacionais, é verdade. amei, desamei, ri até fazer xixi, perdi a razão em discussões que me pareciam extremamente relevante, mas que agora não me vem à cabeça do que se tratavam. também andei descaço na praia, corri, joguei (mal) bola. cresci muito e tive dores nas juntas e articulações - isso me faz ter medo das dores na terceira idade, se eu chegar lá -, também assisti muitos filmes bons e outros ruins. li alguns livres bons, outros ruins, mas sempre os terminei. fiz (pouquíssimos) bons amigos. vi minha (ex) melhor amiga nua e transei com ela, perdi a amiga. namorei, transei mais um pouco. fumava e disfarçava os suspiros de lamentação ou de encantamento - e sempre lembrava do mário quintana ao fazer isso ("desconfia dos que não fumam..."). gostava mesmo era de mergulhar intensa e profundamente em pessoas, coisas, livros e filmes. os mergulhos dados às cegas acabavam, por vezes, em cabeçadas ao fundo, mas eram mergulhos e sempre terminavam de uma forma ou de outra.o certo é que ao escrever sobre o que fiz ou pensei, sobre o que deixei de fazer ou de falar, sobre as pessoas que conheci ou sobre aquelas que fingi algum interesse somente para ver a que ponto elas poderiam confiar em mim - quase que uma espécie de teste do meu poder de persuasão e da confiança que inspirava nelas (poderia escrever muito sobre isso. vocês não fazem ideia de como somos maleáveis e facilmente manipuláveis! é incrível!) - e ainda poderia escrever sobre todas as minúcias das sensações que experimentei, mas isso soa lamentável. inspiraria nostalgia em mim. nostalgia é a saudade de um passado que já foi. o tempo já foi, eu e você também/ e o mundo não vai querer ouvir sua histórinha de vida, há outras 6 bilhões de histórias tão (ou mais) interessantes quanto as nossas.

só mais uma coisa: o tempo e o raduan nassar fizeram com que eu perdesse o amor ao parágrafo, o texto ordenado e a revisão do vômito transportado ao papel. o texto ser mais livre também me investe numa nova e deliciosa liberdade.