tudo transcorreu bem nos últimos anos. não sei bem quantos anos, mas tudo terminou de alguma forma bem. tudo bem que não foram somente momentos incríveis, orgasmos e sorriso, mas terminou bem. poderia ter sido melhor, é verdade, mas foi o que a vida teve coragem de me entregar, mesmo com algum receio. certamente não me considerou qualificado o bastante para tantas sensações incríveis. de certo, e por cautela, preferiu trazer um pacote padrão de vida. nasça, seja criança, veja, aprenda, cresça mais um pouco. outro punhado de existência e alguma relevância para uma meia dúzia de pessoas. "o especial acabou, minha criança.. desculpa..". tinha passado muito tempo com uma expectativa enorme de algo gigantescamente sensacional poderia acontecer a qualquer momento. tempo passou, dias, meses e ano depois de ano. nada. vida. vida, mas somente vida na mais singela definição de existência: não havia morrido em nenhum dos trágicos acidentes que tinham acontecido. experimentei no máximo a minha quase morte e a quase morte de algum grande amigo por minha única e exclusiva culpa que não terminou em grande coisa além de um dramalhão meia tigela a respeito da possibilidade existencial de cada um de nós e noites vazias de "por que`s" trazidos ao acaso numa discussão ilógica com meu lado mais racional. imagino que você lê essa história recortada, sem pé nem cabeça, e pensa que sou um cara pessimista. não sou, nunca fui, mas a vida quis me fazer assim. queria que eu fosse, mas não fui. houveram tempo sensacionais, é verdade. amei, desamei, ri até fazer xixi, perdi a razão em discussões que me pareciam extremamente relevante, mas que agora não me vem à cabeça do que se tratavam. também andei descaço na praia, corri, joguei (mal) bola. cresci muito e tive dores nas juntas e articulações - isso me faz ter medo das dores na terceira idade, se eu chegar lá -, também assisti muitos filmes bons e outros ruins. li alguns livres bons, outros ruins, mas sempre os terminei. fiz (pouquíssimos) bons amigos. vi minha (ex) melhor amiga nua e transei com ela, perdi a amiga. namorei, transei mais um pouco. fumava e disfarçava os suspiros de lamentação ou de encantamento - e sempre lembrava do mário quintana ao fazer isso ("desconfia dos que não fumam..."). gostava mesmo era de mergulhar intensa e profundamente em pessoas, coisas, livros e filmes. os mergulhos dados às cegas acabavam, por vezes, em cabeçadas ao fundo, mas eram mergulhos e sempre terminavam de uma forma ou de outra.o certo é que ao escrever sobre o que fiz ou pensei, sobre o que deixei de fazer ou de falar, sobre as pessoas que conheci ou sobre aquelas que fingi algum interesse somente para ver a que ponto elas poderiam confiar em mim - quase que uma espécie de teste do meu poder de persuasão e da confiança que inspirava nelas (poderia escrever muito sobre isso. vocês não fazem ideia de como somos maleáveis e facilmente manipuláveis! é incrível!) - e ainda poderia escrever sobre todas as minúcias das sensações que experimentei, mas isso soa lamentável. inspiraria nostalgia em mim. nostalgia é a saudade de um passado que já foi. o tempo já foi, eu e você também/ e o mundo não vai querer ouvir sua histórinha de vida, há outras 6 bilhões de histórias tão (ou mais) interessantes quanto as nossas.
só mais uma coisa: o tempo e o raduan nassar fizeram com que eu perdesse o amor ao parágrafo, o texto ordenado e a revisão do vômito transportado ao papel. o texto ser mais livre também me investe numa nova e deliciosa liberdade.
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