terça-feira, 30 de outubro de 2018

eu sinto dor

todo ar que respiro é transformado em redemoinho de punhais que me rasgam por inteiro. o sangue que verte destes ferimentos inunda o pouco que ainda carrego de mim mesmo. eu sinto dor. uma dor tão pungente que fez de minhas veias e vasos as suas raízes e agora não há parte de mim que não seja somente dor. todos os meus gestos e falas resultam em um grito surdo, que estremece todas as minhas estruturas, trinca meus ossos e produz ainda mais dor. ninguém pode me ouvir. eu sinto dor. a minha dor parece querer me afogar, falta o ar e sinto os braços e pernas dormentes, resta somente o oxigênio do último respirar. o corpo entorpecido. a dor é como correnteza que me puxa e me navega, depois deixa-me à deriva em um remanso e tira de mim o norte do caminho que queria seguir. não me lembro mais do caminho. eu sinto dor. o passado que me atormenta e que me tira o sono, vozes que gritam e me chamam para cobrar dívidas que eu não posso pagar. não tenho dormido há muito tempo, levo a vida com sonolência, entre cochilos breves e entorpecido. eu sinto dor. e não há mais nada em mim que ainda não esteja tomado e inerte. meus olhos absortos não conseguem enxergar e minha mente anuviada apagou as lembranças de tudo que senti, dos lugares por onde andei e dos amores que vivi. eu sinto dor. tudo que fui resultou somente em dor e feridas que insistem em sangrar, gritos desesperados que imploram clemência das chagas que me atormentam e se acumulam nas paredes em que ergui e fiz a minha morada.eu sinto dor. e já não sinto mais nada.

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